FOLHA 9 - NESTA. FOLHA. ESTA. LAMCADO. TODA. A COSTA. DAFRICA. E DE GINE. ATE A ILHA. DE SAM TOME.
A linha do Equador serve de base a esta carta, onde se figuram os litorais da África ocidental desde a entrada do Mediterrâneo até à ilha de São Tomé, no Golfo da Guiné, incluindo os arquipélagos atlânticos dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde. O “Mare Atlanticvm” e o “Oceanvs Ocidentalis” separados pelo Trópico de Câncer banham todas essas costas e ilhas.
No interior quase vazio, apenas se figura uma hipotética rede hidrográfica, em que se destaca um grande rio, provavelmente o Senegal; nos litorais, uma densa e detalhada toponímia geográfica portuguesa: Cabo de São João, Cabo do Galo, Rio dos Camarões.
As bandeiras põem em confronto apenas duas potências: Portugal por oposição aos territórios árabes, simbolizados pelo crescente islâmico. Uma das bandeiras muçulmanas encontra-se ostensivamente implantada em Safi, antiga praça marroquina portuguesa e sede de bispado, abandonada em 1541. As bandeiras da Ordem de Cristo assinalam Arzila e Ceuta, controlando a entrada/saída do Mediterrâneo, e a ilha de São Tomé e a foz do Rio dos Camarões (Rio Wouri, junto à atual cidade de Douala), entrepostos no tráfico de escravos. Ainda como marcas de posse, observamos dois escudos com as armas de Portugal, no interior dos Rios da Guiné (“Gine”) e no interior do Golfo da Guiné, repleto de topónimos portugueses.
Foi este último aspecto repetidamente evocado ao apresentar-se a página do Atlas como prova documental histórica, dos direitos de Portugal na África Ocidental, particularmente, em torno dos Rios da Guiné, aquando dos acordos diplomáticos e militares com a França e a Inglaterra, nos meados do século XIX.
João Carlos Garcia
(Faculdade de Letras, Universidade do Porto)