O Romance da Rosa ou a Arte do Amor na Idade Média
O Romance da Rosa visa entreter os leitores e instruí-los na arte do amor. Trata-se de um poema narrativo escrito no século XIII por dois autores sucessivos (devido à morte prematura do primeiro): Guillaume de Lorris e Jean de Meun. Insere-se na tradição das "artes amorosas" inspiradas por Ovídio e é considerado um dos textos fundadores do amor cortês. Sob a forma de um sonho alegórico, narra a busca de um jovem por uma rosa (uma jovem), desde o amor à primeira vista até a conquista da amada. Amigável e misógino ao mesmo tempo, tradicional e subversivo, este longo poema aborda um tema atemporal: o amor, suas alegrias, suas armadilhas, questões sociais e espirituais. O poema trata de questões como a arte da sedução, a crueza da linguagem, a misoginia e o lugar do amor no destino humano, temas que permanecem surpreendentemente contemporâneos.
O Romance da Rosa foi a obra profana mais copiada da Idade Média, depois da Divina Comédia de Dante, e teve um enorme sucesso, com cerca de 250 manuscritos conhecidos. Lido, citado e admirado, seduziu gerações de leitores entre o final do século XIII e o início do século XVI. A obra foi impressa a partir de 1480 e tornou-se um livro de referência até o Renascimento, quando ganhou nova vida e suscitou debates e controvérsias acalorados.
A história
O Romance da Rosa é a história de um sonho alegórico. O narrador, um jovem homem, conta como entrou no jardim onde reside o Deus do Amor e apaixonou-se por um botão de rosa. O sonho ocorre na primavera, época do amor e do despertar da natureza.
Após deixar a cidade e vagar por uma natureza exuberante, o narrador chega a um jardim cercado por altos muros, nos quais se ouve uma música agradável. Sobre esses muros estão dez figuras alegóricas que representam tudo o que se interpõe no caminho do amor: Velhice, Tristeza, Pobreza, Avareza, entre outros.
No jardim, as alegorias do amor cortês dançam alegremente: Riqueza, Beleza, Franqueza, Juventude, bem como o Deus do Amor e o seu duplo, Olhar Doce, que simboliza o "amor à primeira vista", o nascimento do amor. O Amor então dispara cinco flechas no narrador, atingindo-o no olho e no coração. Angustiado por seu sofrimento, ele torna-se vassalo do Deus do Amor, numa cerimónia semelhante à da vassalagem. A partir de então, o narrador não descansará até conquistar o objeto do seu desejo.
Dois autores, duas visões do amor
A primeira parte, escrita por Guillaume de Lorris por volta de 1237, é uma ?arte do amor? na tradição do amor cortês dos trovadores e do romance épico. Este poema é inspirado nos romances de cavalaria, com suas aventuras, busca pelo inalcançável e lugares de sonho.
A segunda parte, escrita por Jean de Meun por volta de 1270, é apresentada de maneira mais cínica e erudita. Contém, entre outras coisas, 84 versos sobre a arte alquímica que, segundo o autor, é a única que consegue imitar perfeitamente a natureza.
Sob a pena de Jean de Meun, a arte do amor cortês se transforma em um "espelho do amor", com exemplos de amantes célebres e vítimas do sentimento amoroso, na maioria da Antiguidade (as virtuosas Virgínia e Lucrécia, a infeliz Dido, os adúlteros Vênus e Marte, Heloísa e Abelardo, Pigmaleão...). Por meio de várias personagens, ele explora diferentes situações do amor, que vão desde a amizade casta até o inferno conjugal, passando pela astúcia e pelo amor livre. O romance se encerra com uma cena de defloração bastante explícita. Essa parte pode ser chocante, tanto que, a partir da década de 1290, Gui de Mori reviu o Romance da Rosa conferindo-lhe um sentido mais cortês e cristão.
Um best-seller internacional
A fama do Romance da Rosa estendeu-se para além das fronteiras do Reino da França e alcançou os grandes poetas europeus. Na Idade Média, este poema tornou-se um sucesso sem precedentes, considerado um dos livros profanos mais populares após a Divina Comédia. Geoffrey Chaucer, autor dos famosos Contos da Cantuária, traduziu o Romance da Rosa para o inglês. Uma das alegorias do Roman, "A Velha", provavelmente inspirou uma das personagens dos Contos da Cantuária, a Comadre de Bath, conhecida por seu desejo de aproveitar a vida.
O Romance da Rosa também foi muito famoso na Itália, especialmente graças a Dante, que pode ter sido o autor de uma das primeiras traduções para o italiano.
O Romance da Rosa de Francisco I
O livro foi copiado em 1520 por Girard Acarie para o rei Francisco I, como se pode deduzir pelas armas de Francisco I na p. 3v, a dedicação na p. 4v e a miniatura de apresentação na p. 4r. O livro também contém um panegírico a Francisco I na p. 180v. O número 38 que aparece no canto superior esquerdo da folha 1v é a assinatura do manuscrito quando estava na biblioteca de Francisco I.
As miniaturas do códice, a maioria destacada em molduras arquitetónicas de um estilo renascentista claro, são um fiel reflexo da narração em imagens. Os personagens são caracterizados por terem corpos estilizados e frequentemente em movimento, o que, com a modelagem das roupas, confere às cenas um grande dinamismo.