Atlas universal de Fernão Vaz Dourado

Mapa 1: Norte de Europa
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FOLHA 6 - NESTA FOLHA. ESTA LAMCADO. TODA. A COSTA. DALTALEMANHA. E FRAMCA. E BRETANHA. ATE. IMGRATERA.

A imagem, quase dividida ao meio pelo Cículo Polar Ártico (“Circvlvs Articvs”), está dedicada ao extremo norte da Europa Ocidental, tendo no centro a Escandinávia e para Norte, em quase um terço da parte superior do mapa, o extenso “Mare Congelatvm” (Oceano Polar Ártico). Assim, do Cabo Norte ao sul das Ilhas Britânicas, figuram-se o Mar Báltico, os Golfos da Bótnia e da Finlândia, a Islândia e os litorais desde o Mar do Norte à Polónia e aos Estados Bálticos. Existem ilhas míticas que flutuam no “Oceanvs Hiperborevs”, como “Obrazill”, para Oeste da Irlanda. O interior do continente apresenta pouca informação, apenas os cursos de grandes rios. Os nomes de cidades e países encontramo-los com distribuição bastante confusa: “Framca, Olamda, Rvsia, Pelonia, Viana, Vngria, Bvda, Belgrado”.

Na busca de fontes entre os protótipos da Cartografia portuguesa, tão pouco estudados no que respeita a espaços europeus, encontrámos algumas semelhanças no desenho dos litorais – entrada do Báltico, Ilhas Britânicas, Península Ibérica, Estreito de Gibraltar –, entre esta imagem de Vaz Dourado e a carta náutica atribuída a Lopo Homem, de c. 1550, existente nas colecções da Biblioteca Nacional de Portugal. Haveria que estender esta análise à produção não portuguesa, na busca de mais inter-influências.

Um dos centros de interesse do mapa é a heráldica presente sobre as regiões e países europeus. Apenas dois esclarecimentos, um sobre as Ilhas Britânicas, outro sobre os reinos da Escandinávia. Sobre a Inglaterra e a Irlanda encontramos a cruz de São Jorge, o que indica a ocupação da segunda pela primeira. No caso da Escócia, separada fisicamente da Inglaterra por um canal, é a cruz em aspa de Santo André que está figurada, já que Jaime VI Stuart, o futuro Jaime I de Inglaterra, governa então um reino independente (1567-1603). No atlas de 1568, Vaz Dourado repartira as armas da Inglaterra pelos três reinos; do ano anterior datava a deposição de Maria Stuart como rainha da Escócia e a sua detenção pelos ingleses.

Mais interessante é a possível explicação das ostensivas armas espanholas sobre a Escandinávia, já que aquando da feitura do Atlas é a Casa de Vaza que reina na Suécia. Porém, para uma parte das chancelarias europeias esta nova dinastia usurpara o trono, em 1523, a Cristiano II (1481-1559), primeiro rei da Dinamarca e da Noruega (1513-1523) e depois, rei da Suécia (1520-1521). Cristiano II casara com Isabel de Áustria (1501-1526), irmã do imperador Carlos V, e desse casamento nasceram Doroteia, futura eleitora palatina, e Cristina, primeiro Duquesa de Milão e depois da Lorena. As sobrinhas do imperador e primas de Filipe II de Espanha, vivas em 1571, não haviam deixado de reivindicar as coroas escandinavas.

João Carlos Garcia
(Faculdade de Letras, Universidade do Porto)
 

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