FOLHA 12 - NESTA. FOLHA. ESTA. LAMCADO. TODA. A COSTA. DA IMDIA. DO RIO. DE. IVGO ATE O PORTO. DE. BEMGALA.
Com base no Equador, a carta constrói-se em torno do Índico ocidental. Os litorais figurados estendem-se da Somália até ao centro do Golfo de Bengala, incluindo o Mar Vermelho e o Golfo Pérsico.
São vários os importantes elementos geográficos que se repartem no interior continental. O primeiro, é o curso do Nilo, com os seus lagos, afluentes e ilhas, desde a nascente num grande lago, junto a uma alta montanha, no coração do império do “Preste Ioão”, até ao delta no Baixo Egipto. O segundo, o território da Mesopotâmia, entre o Tigre e o Eufrates, com a localização de Bagdad, na margem de um grande golfo interior povoado de ilhas, e Bassorá, no fundo do Golfo Pérsico. O terceiro, o curso do Indo e a península de Gujarat. O quarto, o denso e extenso alinhamento Noroeste-Sudoeste do Arquipélago das Maldivas, e um pouco mais para norte, o Arquipélago das Laquedivas, junto à costa do Malabar. O quinto, o pormenor da figuração do Ceilão, que surge como uma redução do mapa da ilha a uma grande escala, que Vaz Dourado incluíra no seu Atlas de 1568 (fol. 13).
A presença do mundo islâmico em todo o Sudoeste asiático é recordada pelas bandeiras e escudos no Médio Oriente, na Península Arábica, no Paquistão e no Irão. Em África, apenas as armas do Preste João (cruz dourada em campo azul), recordam esse isolado reino cristão. Encontram-se repartidas pelo topo do mapa, sete bandeiras da Ordem de Cristo e de Portugal, estrategicamente localizadas: em Ormuz, na entrada do Golfo Pérsico, e ao longo da costa do Indostão ocidental – Diu, Baçaim, Surate, Goa, Onor/Angediva e Cochim – onde a presença da colonização portuguesa é mais intensa, também através da construção de importantes fortalezas. A notável diferença na concentração de topónimos existentes entre os litorais ocidental e oriental do sub-continente indiano é a prova de tal realidade.
Esta carta hidrográfica apresenta fortes semelhanças com as folhas 15 e 16 do Livro de Marinharia de João de Lisboa, de c.1560 e a folha 5v do Atlas Universal de Lázaro Luís, de 1563, provando que os protótipos cartográficos circulavam entre os autores e as escolas.
João Carlos Garcia
(Faculdade de Letras, Universidade do Porto)