A pintura representa o escudo dos Reis Católicos ou, antes, os escudos das coroas de ambos os monarcas: mostra, sobre um fundo ilusionista azul fechado numa moldura simples, a águia de São João, dourada e confundida sobre o todo, cuja cabeça está flanqueado por dois amuletos onde se lê, à esquerda: « svb vmbra/alarvm/tvarum» e «protege/nos » à direita. Segura com as suas garras o grande escudo dos reis, contra-esquartelado, encravado e caído: o primeiro quarto de vermelho e ouro, que representa o reino de Castela, mostra um castelo dourado fortificado; no segundo, de prata, um leão rampante de sabre, linguado e coroado de ouro, representa o reino de Leão. O reino de Castela e Leão forma um escudo esquartelado em cruz; seguidamente, o de Aragão denomina-se partido e compõe-se, conforme se vê no terceiro quarto dos quatro paus de vermelho sobre o campo dourado, referido à coroa de Aragão; no quarto, em campo de prata, esquartelado em aspa, 1º e 4º de Aragão, 2º e 3º em campo de prata, águia com asas estendidas de sabre, correspondente ao reino da Sicília; na metade inferior, repete-se estes dois escudos, mas invertido; por último, encravado de prata, uma granada natural rajada de vermelho, esculpida e folheada de duas folhas de sinople, representa o reino de Granada. Ao timbre, coroa real, fechada, isto é, um círculo de ouro engastado de pedras preciosas –rubis, safiras e pérolas– composto de oito florões de folhas de acanto, com cinco visíveis.
Na parte inferior, e de menor tamanho, dois escudos contra-esquartelados; o da esquerda, preso por uma corrente, o do Infante Dom João, príncipe das Astúrias e o de Margarida da Austria; o de Joana I de Castela e o arquiduque Felipe I de Habsburgo, o da direita: Ao timbre, coroa imperial. Os escudos dos príncipes hispanos são iguais aos dos Reis Católicos; os da dinastia de Habsburgo, que ocupam os flancos direitos e esquerdo, respectivamente, são aquartelados com escudete: no primeiro quarto, aprecia-se o brasão da Áustria moderna: no campo de vermelho, faixa em prata; no segundo, correspondente a Borgonha moderna (ducado de Digione), campo de azul com três flores-de-lis de ouro, postas duas e uma; no terceiro, pertencente a Borgonha antiga (Franco Condado: Besançon), bandado de ouro e azul, em ordens de 3 e 3, com adorno composta de vermelho; no quarto, no campo de sabre, leão rampante de ouro e linguado, correspondente a Bravante (ducado de Bruxelas, Amberes, Lovaina e Breda) e, finalmente, um escudete que apresenta num campo dourado, leão rampante de sabre, correspondente à Flandres (condado de Bruges e Gant). Ambos os escudos estão rodeados por três amuletos onde se lê os seguintes motes, retirados do salmo 44,17: « pro patribvs tvis nati svnt tibi filii » « constitvisti eos principes svper omnem terram », e 111, 2: « potens in terra erit semen eivs generatio rectorvm benedicetvr », referidos, neste contexto, à realeza divina, poder e fecundidade dos príncipes.
Obviamente, pese o facto de se ter realizado posteriormente à conclusão do breviário, os escudos dos Reis Católicos e seus filhos e genros, especialmente no que se refere aos motes, marcam um término
post quem para a datação do códice. Com toda a probabilidade, este fólio deve ter sido acrescentado antes de 4 de Outubro de 1497, data do falecimento de João de Trastámara, príncipe das Astúrias. A semelhança da imagem que ocupa todo o fólio deste breviário, com três escudos de armas situados num espaço ilusório pouco profundo, com a de uma pintura das armas de Isabel I de Castela, que aparecem num livro das horas (Cleveland, The Cleveland Museum of Art, 1963-256, f. 1v.) executado dentro da década dos anos 90, confirma a autenticidade do escudo de armas do breviário. O duplo matrimónio por poderes teve lugar na Flandres em Novembro de 1495, com Francisco de Rojas a representar os jovens infantes. A apresentação do códice, por parte do embaixador, à sua rainha deveu-se, talvez, para comemorar este evento.