Durante os quase dez séculos que vão desde a fundação até à queda de Constantinopla (de 324 a 1453 da nossa era) e que, de certo modo, delimitam a Idade Média, numerosos povos desempenharam um papel importante na história da nossa civilização: com eles, desenvolveram-se diferentes formas de arte. A economia, as atividades produtivas e a agricultura transformaram-se e novos modelos de governo e novas entidades políticas vieram à luz.
Entre as novidades da Idade Média encontram-se as variadas línguas que os povos recém-chegados às margens do Mediterrâneo e ao continente trouxeram consigo. Ainda que as línguas internacionais que eram o latim, o grego e o árabe tivessem servido para unificar esta multiplicidade, eram muitas as línguas comumente utilizadas, o que sem dúvida criava certa confusão na transmissão do saber.
Naquela época a maioria das plantas empregues como matéria-prima para a elaboração de fármacos tinham nomes baseados em particularidades e tradições locais e, por isso, eram difíceis de reter a nível global, mais além do seu núcleo original de utentes. Quem crescia num meio natural, como era normal no passado, conhecia as plantas pelo seu nome tradicional e não pela sua denominação científica. No entanto, era vital comunicar-se e entender-se, tanto mais que as plantas desempenhavam um papel fundamental para a saúde. Os médicos, boticários, ervanários e coletores de plantas necessitavam assim de uma ferramenta comum de comunicação. Os mais letrados poderiam compor dicionários multilingues, mas o seu manuseamento seria difícil e não permitiria uma consulta rápida. Surgiu uma solução certamente mais eficaz: representar as plantas e acompanhar estas ilustrações com o seu nome nas principais línguas em uso. Uma linguagem visual, pois o protagonismo era da imagem, que permitia compreender muito mais que as palavras.
Assim é este Tractatus de herbis atualmente conservado em Londres, na insigne British Library: uma antologia gráfica da medicina que podia ser utilizada por leitores de qualquer origem e formação. Um livro que ligava as diferentes povoações da Idade Média graças ao seu discurso visual, baseado na imagem. Um livro que permitia compreender para além das diferenças.
Um livro que mostra como a Idade Média não era certamente obscura, mas sim que dominava perfeitamente a técnica da comunicação visual com uma insuspeita modernidade.