Bíblia de São Luís

Santa Igreja Catedral Primada, Toledo, The Morgan Library & Museum, New York




Data: 1226-1234
Tamanho: 422 x 300 mm
3 volumes, 1.230 páginas
4.887 cenas historiadas iluminadas da Bíblia
Estojo em pele
Volume de estudo a cores: Vol. I (511 pp.) por Ramón Gonzálvez (Toledo Cathedral), Fr. Miguel C. Vivancos, (O.S.B.) y Jean-Pierre Aniel (Manuscripts department (CRME), BnF); Vol. II (496 pp.) por Ramón (Toledo Cathedral), Francisco J. Hernández (Carleton University, Ontario), Manuel González (Seville University), John Lowden (Courtauld Institute of Art, London), Klaus Reinhardt (Trier University), François Boespflug (Marc Bloch University, Strasbourg), Yolanta Zaluska (Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS, Paris) e Yves Christe (Geneva University)
«Primeira edição, única e irrepetível, limitada a 987 exemplares, numerados e autenticados com um certificado notarial»
ISBN: 978-84-88526-59-5


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Data: 1226-1234
Tamanho: 422 x 300 mm
3 volumes, 1.230 páginas
4.887 cenas historiadas iluminadas da Bíblia
Estojo em pele
Volume de estudo a cores: Vol. I (511 pp.) por Ramón Gonzálvez (Toledo Cathedral), Fr. Miguel C. Vivancos, (O.S.B.) y Jean-Pierre Aniel (Manuscripts department (CRME), BnF); Vol. II (496 pp.) por Ramón (Toledo Cathedral), Francisco J. Hernández (Carleton University, Ontario), Manuel González (Seville University), John Lowden (Courtauld Institute of Art, London), Klaus Reinhardt (Trier University), François Boespflug (Marc Bloch University, Strasbourg), Yolanta Zaluska (Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS, Paris) e Yves Christe (Geneva University)
«Primeira edição, única e irrepetível, limitada a 987 exemplares, numerados e autenticados com um certificado notarial»
ISBN: 978-84-88526-59-5




Commentary volume

Livro de estudo

Bíblia de São Luís Santa Igreja Catedral Primada, Toledo, The Morgan Library & Museum, New York


I: Texts
Volume I contains the transcription of the Latin text and its translation into Spanish
 
II: Commentary volume.
Coordinator: Ramón Gonzálvez

Contents:

From the editor to the reader

Prolegomenon
Ramón Gonzálvez (Toledo Cathedral)

The Bible of Saint Louis in the chapels royal of France and Castile
Francisco J. Hernández (Carleton University, Ontario)

The Bible of Saint Louis in the Testament of Alfonso X The Wise of Castile (1284)
Manuel González (Seville University)

The Bible of Saint Louis of Toledo Cathedral
Ramón Gonzálvez

The Bible of Saint Louis as a Bible Moralisée
John Lowden (Courtauld Institute of Art, London)

Codicological study of the Bible of Saint Louis
Ramón Gonzálvez

The texts of the Bible of Saint Louis
Klaus Reinhardt (Trier University)

The artists of the Bible of Saint Louis
John Lowden

The New Testament (except the Revelation) in the Bible of Saint Louis
François Boespflug (Marc Bloch University, Strasbourg)
Yolanta Zaluska (Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS, Paris)

The Bible of Saint Louis and the stained-glass windows in the Sainte-Chapelle, Paris
Yves Christe (Geneva University)

ISBN: 978-84-88526-91-5


Bíblia de São Luís Santa Igreja Catedral Primada, Toledo, The Morgan Library & Museum, New York


Descripcion

Descrição

Bíblia de São Luís

Santa Igreja Catedral Primada, Toledo, The Morgan Library & Museum, New York


DESCRIÇÃO
Pertenceu ao rei São Luís da França e mais tarde a Afonso X, o Sábio.
Foi copiada e iluminada entre 1226-1234, em Paris.
A Idade Média pode ser lida em imagens através desta Bíblia.
O texto bíblico e os seus comentários formam um todo indissolúvel com o conjunto iconográfico.
Monumento único da arte livresca que constitui uma mina inesgotável para o historiador e uma fonte de gozo sublime para os sentidos.



A BÍBLIA DE SÃO LUÍS
A Bíblia de São Luís, da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo ocupa um dos lugares de preferência dentro do rico património da catedral de Toledo. É uma Bíblia moralizada escrita em Latim, que pela sua beleza extraordinária é conhecida também pelo nome de "Bíblia rica de Toledo".

Os dados mais antigos que se possuem desta obra em Castela, remontam ao testamento e ao codicilo de Afonso X, o Sábio. Em relação à Bíblia de São Luís há uma referência no testamento do rei castelhano, Afonso X, no qual ela é descrita como uma Bíblia “de três livros, historiada, que nos deu o rei Luís de França” e como “uma das coisas mais nobres pertencentes ao Rei”. Com toda a certeza se pode afirmar que a Bíblia de São Luís, à qual se refere Afonso X, o Sábio, é a que está conservada na catedral de Toledo. Pelos estudos realizados sobre os seus diferentes aspectos e pela análise interna da mesma, pode-se assegurar com muita proximidade a data da composição e o tempo em que foi copiada e iluminada. Estes trabalhos foram realizados entre os anos de 1226 e 1234. Esta tão grande obra, tão precisa e minuciosa, exigiu a dedicação paciente de muitos especialistas das mais variadas matérias, próprias de teólogos, copistas e iluminadores.

Este códice foi feito para o rei, como um meio de formação e de informação e como instrumento pedagógico na educação do futuro rei de França. Durante os últimos oito séculos o Cabido da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo encarregou-se de custodiar e conservar minuciosamente esta jóia bibliográfica que por méritos próprios pode ser qualificada de única e que é motivo de admiração e assombro para quantos têm a oportunidade de a contemplar.

É cada vez maior o número de estudiosos interessados na investigação desta fonte inesgotável de cultura onde se encontra encerrada tanta riqueza doutrinal, característica do século XIII. Todos os dias aumentam os pedidos recebidos pelo Cabido para o acesso directo à Bíblia de São Luís com a finalidade de estudo e investigação dos mais diversos temas e matérias. O motivo deste interesse é variado: pode ser o estudo bíblico e teológico em alguns casos; em outros, o aspecto artístico e ornamental é o que suscita tanta curiosidade; um terceiro grupo é composto pelos que se sentem atraídos por uma perspectiva histórica dentro do seu plano de investigação.

O Cabido da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo tem consciência de que, por um lado, deve ter a sensibilidade suficiente para facilitar o estudo a quantos se sintam atraídos para a investigação da Bíblia de São Luís. Por outro lado, tem a mesma consciência de que é sua obrigação manter no melhor estado possível esta jóia única e conservar o que durante tantos séculos tem sido custodiado com tanto zelo, com a precaução de buscar a máxima segurança e custódia desta peça única no Tesouro da catedral.

Por estes motivos o Cabido decidiu proceder a edição fac-símile da Bíblia de São Luís. É de louvar este projecto que hoje vemos como realidade. Depois de muitas gestões seguidas com diferentes casas editoriais, este projecto consolidou-se, por fim, com M. Moleiro Editor. O resultado é indubitavelmente bom para todos. Finalmente quero que fique realçada a minha satisfação, uma vez que aproveito esta ocasião para agradecer a quantos tornaram possível esta edição fac-símile da Bíblia de São Luís. Tenho presente a todos os que dedicaram, de uma maneira oculta e quase anónima, tantas horas e tanto empenho sonhador até ver terminada esta tarefa árdua e difícil, que agora é apresentada como prazerosa realidade, com resultados que merecem todo o louvor.

Desta forma, é prestado um serviço à cultura e oferece-se uma ajuda às mais variadas bibliotecas e aos particulares interessados nestes temas. Com este serviço o Cabido oferece uma grande oportunidade para poder completar e utilizar esta reprodução, que é um instrumento formidável para tornar realidade tantos projectos de investigação e estudo.

D. Francisco Álvarez Martínez
Arcebispo Cardeal de Toledo
Primado de Espanha

A BÍBLIA EM CASTELA
As primeiras notícias que se possuem sobre a Bíblia de São Luís encontram-se no testamento e no codicilo de Afonso X, o Sábio, de Castela. No testamento, outorgado em 1282, descreve-se uma Bíblia “em três livros, historiada, que nos deu o rei Luís de França”. Estes poucos dados são tão precisos que bastam para a identificar sem dificuldade como o exemplar existente no tesouro da catedral de Toledo. Uma Bíblia repleta de histórias para ilustrar os relatos bíblicos, dividida em três livros ou volumes e cujo o primeiro proprietário havia sido Luís IX, rei de França, concorda admiravelmente com a Bíblia Rica de Toledo. Se para além disso se especifica que o seu proprietário e utilizador inicial se tinha desprendido dela em favor de Afonso X por meio de uma doação inter vivos, esta valiosa anotação acrescenta uma informação complementar que termina por desvendar o enigma da presença desta jóia bibliográfica em Castela.

Afonso X professava uma altíssima estima por esta Bíblia, à qual em seu testamento classificava no grupo «das coisas nobres que pertencem ao rei». No codicilo, datado de 1284, fala acerca do que “temos em Toledo, que nos tomaram”, numa alusão a um sequestro ilícito de objectos da câmara real, efectuado contra a vontade do seu dono. Entre eles possivelmente se encontrava a Bíblia historiada. O rei declarava o seu pesar, visto que se trata das «coisas muito ricas e muito nobres que pertencem aos reis». Com esta expressão, calcada sobre a do testamento, reiterava a sua convicção de que uma preciosidade de tão alto valor havia sido criada para os reis e era de uso exclusivo das pessoas de condição real.

UMA BÍBLIA SINGULAR
A Bíblia de São Luís faz parte de um pequeno conjunto de sete Bíblias, que foram copiadas no século XIII para as pessoas da realeza francesa da dinastia então reinante, os Capetos. Trata-se de um tipo peculiar de livro bíblico, que não teria precedentes na tradição dos escritos europeus. Ricamente iluminado como correspondia à dignidade dos destinatários.

Geralmente são conhecidas com o nome de Bíblias moralizadas. Poucas em número, como já se disse, dado o elevado custo da sua confecção. A característica mais destacada destes livros é a enorme manifestação de riqueza e faustosidade de que fazem gala. A sua aparência externa é tão excepcional que imediatamente pensa-se que os destinatários não poderiam ser outros do que as pessoas de posição mais elevada da sociedade medieval. E assim foi, com efeito: eram umas Bíblias feitas para o uso exclusivo dos reis.

A enorme quantidade e qualidade das suas histórias iluminadas fazem com que a referida aparência atraia a atenção do leitor desde o princípio. A singularidade destas Bíblias mostra-se principalmente em dois aspectos: no codicológico e no textual.

Do ponto de vista da obra enquanto livro, há que se confessar que toda ele é extraordinário. Os que se encarregaram da obra, abrigavam na sua mente um projecto de enorme magnitude, muito maior do que os artesãos do livro estavam acostumados a realizar. Inclusive podemos dizer que tudo foi sacrificado no altar da magnificência. O projecto comportava umas exigências tais de grandeza e de luxo que aqueles que ficaram a cargo da sua execução se viram obrigados a transgredir muitas das normas estabelecidas nas oficinas de copistas e iluminadores.

O formato, sem chegar ao tamanho das antigas bíblias atlânticas, é muito grande e o número de folhas, todas da melhor qualidade, é excepcional. A enorme quantidade de decoração tornou impossível que as folhas de pergaminho suportassem tal carga de pintura e ouro em ambos os lados ao mesmo tempo, porque os pigmentos trespassavam o lado oposto e a folha se curvava. Não houve outra solução senão recorrer a deixar um frontispício em branco em cada pele.

O mais surpreendente é que os frontispícios que recebiam o texto e as imagens não seriam as do lado da carne, mais brancas, mas sim do lado do cabelo. Isto tinha a sua lógica, porque as rugosidades próprias do frontispício do cabelo se prestam muito melhor para a aderência dos pigmentos.

Toda a Bíblia se apresenta como um totum continuum, encabeçada por uma grande página iluminada (Deus Arquitecto do Universo) e uma iluminura final de fecho, também em toda página (a rainha Blanca e o seu filho Luís na parte superior e os artesãos do códice na inferior), o que indica que o livro foi concebido como uma grande unidade. Foram-se amontoando os cadernos terminados e no final teve que se recorrer a divisão em três volumes como última operação não prevista nem calculada. A divisão foi feita de um modo um tanto arbitrário, como se pode comprovar examinando os lugares por onde cada um dos volumes é separado.

Se contemplarmos a obra do ponto de vista dos textos, damo-nos conta de que o livro não corresponde de todo a noção de que temos do que seja uma Bíblia. Em primeiro lugar, examinando de perto o escrito, comprovamos de que não se trata de uma Bíblia completa, mas sim de uma selecção de textos bíblicos, com omissão de muitos outros. A metade exacta das peças literárias não pertence à Bíblia, mas são comentários elaborados por alguns teólogos anónimos. Nenhum texto bíblico se apresenta solto, mas sim acompanhado de um comentário autorizado. Estes pequenos textos teológicos são tão importantes para os responsáveis da obra que recebem um tratamento de classificação equivalente ao da própria Bíblia, pois uns e outros vêm interpretados iconograficamente por uma história iluminada, que os franqueia lateralmente.

Desse modo, os textos que encontramos nesta obra pertencem ao mesmo tempo à Bíblia e a Teologia, meio por meio. De tudo o que foi dito, deduz-se que a Bíblia de São Luís é, também a partir deste ponto de vista, uma Bíblia sui generis, uma obra de todo singular.

UMA BÍBLIA AO SERVIÇO DO REI
Afonso X deixou referido no seu testamento que a obra foi feita para uso dos reis. Porém a pergunta crucial é: por que é que precisaram dela o rei da França e a sua mãe. Tratar-se-ia de um capricho faustoso? Não nos chegou referência da intenção da casa real francesa quando deu este encargo aos copistas e iluminadores de Paris, porém não parece admissível a hipótese sugerida, dado o característico sentido utilitário com que os homens medievais contemplavam o livro. O livro é feito para estar ao serviço dos homens, para ser veículo de formação e de informação. Daí que a característica própria do livro seja o de estar sempre a circular nas mãos das pessoas que podem o utilizar. O facto de que a realização da Bíblia de São Luís foi levada a cabo nos anos em que o príncipe francês vivia o seu período escolar, leva a pensar que foi concebida para servir de instrumento pedagógico de apoio na educação do futuro monarca de França.

DATAS DA COMPOSIÇÃO
A última página iluminada permite datar com muita aproximação os anos em que a Bíblia foi copiada e iluminada. Luís IX de França, nascido em 1214, subiu ao trono em 1226 e em 1234 casou-se com Margarida, filha de Ramón Berenguer IV, conde de Provença. Visto que o rei aparece como reinante, mas ainda estava solteiro (junto a ele não aparece ainda a rainha consorte), a Bíblia deve ter sido acabada entre os anos de 1226 e 1234.

O PROGRAMA ICONOGRÁFICO
O texto bíblico e os seus comentários formam um todo indissolúvel com o conjunto iconográfico. O espaço rectangular divide-se em quatro colunas verticais com largura desigual, duas para receber o texto e duas para a decoração. As colunas de texto, mais estreitas, são flanqueadas por estreitas tiras de rica ornamentação com quatro medalhões em cada uma, totalizando oito histórias por cada fólio, de modo que os três volumes compreendem umas 5.000 cenas historiadas. O texto bíblico, frequentemente abreviado, vem seguido de comentários segundo a teoria dos quatro sentidos bíblicos: histórico, alegórico, tropológico e anagógico. Porém nesta Bíblia destaca-se, acima de tudo, um esbanjamento da linguagem icónica. Cada medalhão reproduz uma cena em sintonia com a paisagem bíblica da qual se trata ou com a sua exegese teológica. Na sua realização foi empregue uma enorme gama de cores: azuis, verdes, vermelhos, amarelos, cinzentos, alaranjados, sépias, sempre sobre um fundo de ouro polido. A composição responde a um universo de recursos técnicos e artísticos de grande força expressiva. Às vezes uma cena é unitária, mas em algumas ocasiões está dividida em duas ou mais por meio de uma nuvem, um arco, um raio de sol. O recurso ao sentido tropológico permite aos ilustradores levar a cabo uma formidável obra de crítica social do seu tempo a partir de uma óptica monástica. Nesta Bíblia encontra-se representado todo o vasto mundo do século XIII, os homens e os grupos sociais, os seus vícios e as suas virtudes, as suas ostentações, os seus costumes, as suas crenças, os seus jogos e os seus ideais. A Idade Média pode ser lida em imagens através desta Bíblia.

A OFICINA
Ainda que nenhuma fonte histórica nos informe sobre o lugar da sua realização, apenas existem dúvidas de que a cidade onde foram levados a cabo os trabalhos não pode ser outra senão Paris. E isto não apenas pelo facto de ser a capital do reino e sede da corte, mas, sobretudo, porque nela teria lugar a mais acreditada faculdade de teologia de toda a Europa e os estudos teológicos requeriam o concurso do livro bíblico. Esta circunstância deu lugar a que à volta de Paris se centralizasse a procura e a produção do manuscrito bíblico, sobretudo, do manuscrito bíblico classificado, de composição muito completa, até o ponto de chegar a monopolizar o seu comércio e nenhuma outra cidade pôde competir com ela na qualidade e quantidade deste tipo de livros. A empresa da Bíblia de São Luís foi posta em marcha quando as oficinas parisienses dedicadas a estas tarefas atravessavam um dos momentos mais brilhantes da sua história.

Face à envergadura da obra e da qualidade das pessoas de onde procedia a tarefa, é inevitável pensar que para a levar a cabo foi eleita a mais prestigiosa das oficinas que trabalhavam então em Paris. Todavia, o seu nome permaneceu no anonimato.

OS AUTORES
Até hoje os autores não puderam ser identificados por via documental. Não existem outras pistas para além daquelas que nos proporciona a própria obra na grande iluminura final do último caderno. Enquanto não surgir nenhum documento novo, torna-se necessário procurar as respostas para o problema da autoria no contexto que sugere a página final iluminada.

Nesta página aparecem quatro personagens, duas de tamanho maior na cena superior e outras duas menores na cena inferior.



A parte principal é ocupada por duas personagens da realeza francesa. A figura feminina, que não possui sinais de identificação pessoal, foi interpretada como a da senhora Blanca de Castela, mãe de Luís IX. Sentada no seu trono, vestida com o manto real e adornada com véu branco, dirige-se ao jovem monarca em atitude activa de falar. O rei escuta respeitosamente, enquanto segura entre os seus dedos uma medalha de ouro que traz pendurada ao peito. As atitudes adoptadas por ambas as personagens sugerem a ideia de que a rainha está a realizar a formalidade de dedicar a Bíblia, já terminada, ao jovem rei. Se isto for assim, foi ela quem patrocinou a obra e arcou com os custos da sua confecção. O seu filho, como beneficiário, recebe-a.

A parte de baixo está reservada para os que são realmente inferiores. A posição de subordinação destas duas personagens é evidente, porque as suas representações, mais pequenas, ocupam um plano inferior, o que significa que enquanto a responsabilidade na obra desempenham uma função subalterna. Aparece, em primeiro lugar, um clérigo sentado no seu escano que se dirige ao copista, dando-lhe ordens e controlando o seu trabalho. O referido clérigo está vestido com um aparato religioso. Devemos, portanto, descartar desde o princípio a intervenção de uma personagem investida com a dignidade episcopal, como em algumas ocasiões foi sugerido.

A figura desta personagem indica um clérigo pertencente a uma ordem religiosa, porém deliberadamente não está individualizada. A explicação desta ambiguidade deve ser procurada, em minha opinião, no facto de que aqueles que intervieram dirigindo os copistas, pertencem a mais que uma ordem religiosa. Se for adoptada esta interpretação da iluminura final, a questão da autoria da Bíblia fica resolvida ao menos parcialmente. A grande página iluminada sugere que às quatro personagens que nela aparecem corresponde conjuntamente a autoria e a cada um deles uma parte proporcional em aspectos concretos. Trata-se de uma autoria partilhada.

Corresponde à rainha a iniciativa do projecto, o patronato, o financiamento e o direito de distribuir as directrizes fundamentais, aquelas que atenderá a obra. De algum modo exerce também uma forma de autoria o rei a quem se destina a Bíblia. É ele o beneficiário da mesma. O livro foi feito a pensar nele, na sua educação cristã e no seu proveito político enquanto rei.

Entra na categoria de autor religioso que executa as ordens recebidas, as aplica e as dirige aos artesãos do livro. Já dissemos que se trata da probabilidade de um colectivo de religiosos, talvez composto em boa parte por membros das ordens mendicantes, dominicanos e franciscanos. A eles correspondeu o esboço geral da obra com as suas características peculiares, de acordo com as ordens recebidas.

O copista que figura na iluminura final é também a representação de um colectivo de artesãos das artes do livro que nele tomaram parte activa. Basta um olhar atento em qualquer dos tomos da Bíblia para se convencer da multidão de mãos que intervieram nas tarefas da cópia. Também são mais de um os iluminadores que intervieram na decoração. A eles corresponde principalmente a criação de uma obra de beleza inigualável, que mereceu a admiração e o apreço dos reis mais cultos do seu tempo.

Ramón Gonzálvez Ruiz
Cónego Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo


EDIÇÃO «QUASE-ORIGINAL»

Esta edição «quase-original» da Bíblia de São Luís, há tanto tempo esperada, constitui um documento de altíssimo valor histórico e artístico. Ao dispô-la ao serviço do público, o editor M. Moleiro presta um inestimável serviço, tanto aos que se dedicam a investigação em matérias de arte e história, quanto as pessoas, cada vez mais numerosas, que sabem apreciar as belezas de uma obra de arte que está no topo da arte bibliográfica universal. A Bíblia de São Luís, monumento único da arte livresca, constitui uma mina inesgotável para o historiador e uma fonte de gozo para os sentidos.



Avaliações de clientes


Bíblia de São Luís
Santa Igreja Catedral Primada, Toledo, The Morgan Library & Museum, New York



“Oui, la phrase de Calouste Gulbenkian placée en exergue de votre lettre, correspond parfaitement au résultat de votre travail: ce n’est pas un livre de premier ordre mais bien un « Chef-d’œuvre ». Soyez- en remerciée.”

Michel R. – France



“The St. Louis Bible arrived in good order. I am absolutely in awe at it. It is so beautiful and so meaningful for this Cathedral. I thank you again for your kind consideration.”

Rev. Crosby K. – United States



“Concernant la Bible de Saint Louis, je me suis passionné pour cet ouvrage dès que je l’ai découvert sur votre site. Les enluminures que vous réalisez, sont d’une qualité telle que le Moyen Âge pourrait vous envier! C’est avec une vive émotion que je contemple cette œuvre et la découvre tous les jours un peu plus. La grandeur de votre réalisation est de l’ordre de l’Art. Merci de me permettre au XXIè siècle de pouvoir vivre un peu d’un autre temps tout en m’enrichissant de sa beauté.”

Philippe M. – France




Bíblia de São Luís

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Descrição

DESCRIÇÃO
Pertenceu ao rei São Luís da França e mais tarde a Afonso X, o Sábio.
Foi copiada e iluminada entre 1226-1234, em Paris.
A Idade Média pode ser lida em imagens através desta Bíblia.
O texto bíblico e os seus comentários formam um todo indissolúvel com o conjunto iconográfico.
Monumento único da arte livresca que constitui uma mina inesgotável para o historiador e uma fonte de gozo sublime para os sentidos.



A BÍBLIA DE SÃO LUÍS
A Bíblia de São Luís, da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo ocupa um dos lugares de preferência dentro do rico património da catedral de Toledo. É uma Bíblia moralizada escrita em Latim, que pela sua beleza extraordinária é conhecida também pelo nome de "Bíblia rica de Toledo".

Os dados mais antigos que se possuem desta obra em Castela, remontam ao testamento e ao codicilo de Afonso X, o Sábio. Em relação à Bíblia de São Luís há uma referência no testamento do rei castelhano, Afonso X, no qual ela é descrita como uma Bíblia “de três livros, historiada, que nos deu o rei Luís de França” e como “uma das coisas mais nobres pertencentes ao Rei”. Com toda a certeza se pode afirmar que a Bíblia de São Luís, à qual se refere Afonso X, o Sábio, é a que está conservada na catedral de Toledo. Pelos estudos realizados sobre os seus diferentes aspectos e pela análise interna da mesma, pode-se assegurar com muita proximidade a data da composição e o tempo em que foi copiada e iluminada. Estes trabalhos foram realizados entre os anos de 1226 e 1234. Esta tão grande obra, tão precisa e minuciosa, exigiu a dedicação paciente de muitos especialistas das mais variadas matérias, próprias de teólogos, copistas e iluminadores.

Este códice foi feito para o rei, como um meio de formação e de informação e como instrumento pedagógico na educação do futuro rei de França. Durante os últimos oito séculos o Cabido da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo encarregou-se de custodiar e conservar minuciosamente esta jóia bibliográfica que por méritos próprios pode ser qualificada de única e que é motivo de admiração e assombro para quantos têm a oportunidade de a contemplar.

É cada vez maior o número de estudiosos interessados na investigação desta fonte inesgotável de cultura onde se encontra encerrada tanta riqueza doutrinal, característica do século XIII. Todos os dias aumentam os pedidos recebidos pelo Cabido para o acesso directo à Bíblia de São Luís com a finalidade de estudo e investigação dos mais diversos temas e matérias. O motivo deste interesse é variado: pode ser o estudo bíblico e teológico em alguns casos; em outros, o aspecto artístico e ornamental é o que suscita tanta curiosidade; um terceiro grupo é composto pelos que se sentem atraídos por uma perspectiva histórica dentro do seu plano de investigação.

O Cabido da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo tem consciência de que, por um lado, deve ter a sensibilidade suficiente para facilitar o estudo a quantos se sintam atraídos para a investigação da Bíblia de São Luís. Por outro lado, tem a mesma consciência de que é sua obrigação manter no melhor estado possível esta jóia única e conservar o que durante tantos séculos tem sido custodiado com tanto zelo, com a precaução de buscar a máxima segurança e custódia desta peça única no Tesouro da catedral.

Por estes motivos o Cabido decidiu proceder a edição fac-símile da Bíblia de São Luís. É de louvar este projecto que hoje vemos como realidade. Depois de muitas gestões seguidas com diferentes casas editoriais, este projecto consolidou-se, por fim, com M. Moleiro Editor. O resultado é indubitavelmente bom para todos. Finalmente quero que fique realçada a minha satisfação, uma vez que aproveito esta ocasião para agradecer a quantos tornaram possível esta edição fac-símile da Bíblia de São Luís. Tenho presente a todos os que dedicaram, de uma maneira oculta e quase anónima, tantas horas e tanto empenho sonhador até ver terminada esta tarefa árdua e difícil, que agora é apresentada como prazerosa realidade, com resultados que merecem todo o louvor.

Desta forma, é prestado um serviço à cultura e oferece-se uma ajuda às mais variadas bibliotecas e aos particulares interessados nestes temas. Com este serviço o Cabido oferece uma grande oportunidade para poder completar e utilizar esta reprodução, que é um instrumento formidável para tornar realidade tantos projectos de investigação e estudo.

D. Francisco Álvarez Martínez
Arcebispo Cardeal de Toledo
Primado de Espanha

A BÍBLIA EM CASTELA
As primeiras notícias que se possuem sobre a Bíblia de São Luís encontram-se no testamento e no codicilo de Afonso X, o Sábio, de Castela. No testamento, outorgado em 1282, descreve-se uma Bíblia “em três livros, historiada, que nos deu o rei Luís de França”. Estes poucos dados são tão precisos que bastam para a identificar sem dificuldade como o exemplar existente no tesouro da catedral de Toledo. Uma Bíblia repleta de histórias para ilustrar os relatos bíblicos, dividida em três livros ou volumes e cujo o primeiro proprietário havia sido Luís IX, rei de França, concorda admiravelmente com a Bíblia Rica de Toledo. Se para além disso se especifica que o seu proprietário e utilizador inicial se tinha desprendido dela em favor de Afonso X por meio de uma doação inter vivos, esta valiosa anotação acrescenta uma informação complementar que termina por desvendar o enigma da presença desta jóia bibliográfica em Castela.

Afonso X professava uma altíssima estima por esta Bíblia, à qual em seu testamento classificava no grupo «das coisas nobres que pertencem ao rei». No codicilo, datado de 1284, fala acerca do que “temos em Toledo, que nos tomaram”, numa alusão a um sequestro ilícito de objectos da câmara real, efectuado contra a vontade do seu dono. Entre eles possivelmente se encontrava a Bíblia historiada. O rei declarava o seu pesar, visto que se trata das «coisas muito ricas e muito nobres que pertencem aos reis». Com esta expressão, calcada sobre a do testamento, reiterava a sua convicção de que uma preciosidade de tão alto valor havia sido criada para os reis e era de uso exclusivo das pessoas de condição real.

UMA BÍBLIA SINGULAR
A Bíblia de São Luís faz parte de um pequeno conjunto de sete Bíblias, que foram copiadas no século XIII para as pessoas da realeza francesa da dinastia então reinante, os Capetos. Trata-se de um tipo peculiar de livro bíblico, que não teria precedentes na tradição dos escritos europeus. Ricamente iluminado como correspondia à dignidade dos destinatários.

Geralmente são conhecidas com o nome de Bíblias moralizadas. Poucas em número, como já se disse, dado o elevado custo da sua confecção. A característica mais destacada destes livros é a enorme manifestação de riqueza e faustosidade de que fazem gala. A sua aparência externa é tão excepcional que imediatamente pensa-se que os destinatários não poderiam ser outros do que as pessoas de posição mais elevada da sociedade medieval. E assim foi, com efeito: eram umas Bíblias feitas para o uso exclusivo dos reis.

A enorme quantidade e qualidade das suas histórias iluminadas fazem com que a referida aparência atraia a atenção do leitor desde o princípio. A singularidade destas Bíblias mostra-se principalmente em dois aspectos: no codicológico e no textual.

Do ponto de vista da obra enquanto livro, há que se confessar que toda ele é extraordinário. Os que se encarregaram da obra, abrigavam na sua mente um projecto de enorme magnitude, muito maior do que os artesãos do livro estavam acostumados a realizar. Inclusive podemos dizer que tudo foi sacrificado no altar da magnificência. O projecto comportava umas exigências tais de grandeza e de luxo que aqueles que ficaram a cargo da sua execução se viram obrigados a transgredir muitas das normas estabelecidas nas oficinas de copistas e iluminadores.

O formato, sem chegar ao tamanho das antigas bíblias atlânticas, é muito grande e o número de folhas, todas da melhor qualidade, é excepcional. A enorme quantidade de decoração tornou impossível que as folhas de pergaminho suportassem tal carga de pintura e ouro em ambos os lados ao mesmo tempo, porque os pigmentos trespassavam o lado oposto e a folha se curvava. Não houve outra solução senão recorrer a deixar um frontispício em branco em cada pele.

O mais surpreendente é que os frontispícios que recebiam o texto e as imagens não seriam as do lado da carne, mais brancas, mas sim do lado do cabelo. Isto tinha a sua lógica, porque as rugosidades próprias do frontispício do cabelo se prestam muito melhor para a aderência dos pigmentos.

Toda a Bíblia se apresenta como um totum continuum, encabeçada por uma grande página iluminada (Deus Arquitecto do Universo) e uma iluminura final de fecho, também em toda página (a rainha Blanca e o seu filho Luís na parte superior e os artesãos do códice na inferior), o que indica que o livro foi concebido como uma grande unidade. Foram-se amontoando os cadernos terminados e no final teve que se recorrer a divisão em três volumes como última operação não prevista nem calculada. A divisão foi feita de um modo um tanto arbitrário, como se pode comprovar examinando os lugares por onde cada um dos volumes é separado.

Se contemplarmos a obra do ponto de vista dos textos, damo-nos conta de que o livro não corresponde de todo a noção de que temos do que seja uma Bíblia. Em primeiro lugar, examinando de perto o escrito, comprovamos de que não se trata de uma Bíblia completa, mas sim de uma selecção de textos bíblicos, com omissão de muitos outros. A metade exacta das peças literárias não pertence à Bíblia, mas são comentários elaborados por alguns teólogos anónimos. Nenhum texto bíblico se apresenta solto, mas sim acompanhado de um comentário autorizado. Estes pequenos textos teológicos são tão importantes para os responsáveis da obra que recebem um tratamento de classificação equivalente ao da própria Bíblia, pois uns e outros vêm interpretados iconograficamente por uma história iluminada, que os franqueia lateralmente.

Desse modo, os textos que encontramos nesta obra pertencem ao mesmo tempo à Bíblia e a Teologia, meio por meio. De tudo o que foi dito, deduz-se que a Bíblia de São Luís é, também a partir deste ponto de vista, uma Bíblia sui generis, uma obra de todo singular.

UMA BÍBLIA AO SERVIÇO DO REI
Afonso X deixou referido no seu testamento que a obra foi feita para uso dos reis. Porém a pergunta crucial é: por que é que precisaram dela o rei da França e a sua mãe. Tratar-se-ia de um capricho faustoso? Não nos chegou referência da intenção da casa real francesa quando deu este encargo aos copistas e iluminadores de Paris, porém não parece admissível a hipótese sugerida, dado o característico sentido utilitário com que os homens medievais contemplavam o livro. O livro é feito para estar ao serviço dos homens, para ser veículo de formação e de informação. Daí que a característica própria do livro seja o de estar sempre a circular nas mãos das pessoas que podem o utilizar. O facto de que a realização da Bíblia de São Luís foi levada a cabo nos anos em que o príncipe francês vivia o seu período escolar, leva a pensar que foi concebida para servir de instrumento pedagógico de apoio na educação do futuro monarca de França.

DATAS DA COMPOSIÇÃO
A última página iluminada permite datar com muita aproximação os anos em que a Bíblia foi copiada e iluminada. Luís IX de França, nascido em 1214, subiu ao trono em 1226 e em 1234 casou-se com Margarida, filha de Ramón Berenguer IV, conde de Provença. Visto que o rei aparece como reinante, mas ainda estava solteiro (junto a ele não aparece ainda a rainha consorte), a Bíblia deve ter sido acabada entre os anos de 1226 e 1234.

O PROGRAMA ICONOGRÁFICO
O texto bíblico e os seus comentários formam um todo indissolúvel com o conjunto iconográfico. O espaço rectangular divide-se em quatro colunas verticais com largura desigual, duas para receber o texto e duas para a decoração. As colunas de texto, mais estreitas, são flanqueadas por estreitas tiras de rica ornamentação com quatro medalhões em cada uma, totalizando oito histórias por cada fólio, de modo que os três volumes compreendem umas 5.000 cenas historiadas. O texto bíblico, frequentemente abreviado, vem seguido de comentários segundo a teoria dos quatro sentidos bíblicos: histórico, alegórico, tropológico e anagógico. Porém nesta Bíblia destaca-se, acima de tudo, um esbanjamento da linguagem icónica. Cada medalhão reproduz uma cena em sintonia com a paisagem bíblica da qual se trata ou com a sua exegese teológica. Na sua realização foi empregue uma enorme gama de cores: azuis, verdes, vermelhos, amarelos, cinzentos, alaranjados, sépias, sempre sobre um fundo de ouro polido. A composição responde a um universo de recursos técnicos e artísticos de grande força expressiva. Às vezes uma cena é unitária, mas em algumas ocasiões está dividida em duas ou mais por meio de uma nuvem, um arco, um raio de sol. O recurso ao sentido tropológico permite aos ilustradores levar a cabo uma formidável obra de crítica social do seu tempo a partir de uma óptica monástica. Nesta Bíblia encontra-se representado todo o vasto mundo do século XIII, os homens e os grupos sociais, os seus vícios e as suas virtudes, as suas ostentações, os seus costumes, as suas crenças, os seus jogos e os seus ideais. A Idade Média pode ser lida em imagens através desta Bíblia.

A OFICINA
Ainda que nenhuma fonte histórica nos informe sobre o lugar da sua realização, apenas existem dúvidas de que a cidade onde foram levados a cabo os trabalhos não pode ser outra senão Paris. E isto não apenas pelo facto de ser a capital do reino e sede da corte, mas, sobretudo, porque nela teria lugar a mais acreditada faculdade de teologia de toda a Europa e os estudos teológicos requeriam o concurso do livro bíblico. Esta circunstância deu lugar a que à volta de Paris se centralizasse a procura e a produção do manuscrito bíblico, sobretudo, do manuscrito bíblico classificado, de composição muito completa, até o ponto de chegar a monopolizar o seu comércio e nenhuma outra cidade pôde competir com ela na qualidade e quantidade deste tipo de livros. A empresa da Bíblia de São Luís foi posta em marcha quando as oficinas parisienses dedicadas a estas tarefas atravessavam um dos momentos mais brilhantes da sua história.

Face à envergadura da obra e da qualidade das pessoas de onde procedia a tarefa, é inevitável pensar que para a levar a cabo foi eleita a mais prestigiosa das oficinas que trabalhavam então em Paris. Todavia, o seu nome permaneceu no anonimato.

OS AUTORES
Até hoje os autores não puderam ser identificados por via documental. Não existem outras pistas para além daquelas que nos proporciona a própria obra na grande iluminura final do último caderno. Enquanto não surgir nenhum documento novo, torna-se necessário procurar as respostas para o problema da autoria no contexto que sugere a página final iluminada.

Nesta página aparecem quatro personagens, duas de tamanho maior na cena superior e outras duas menores na cena inferior.



A parte principal é ocupada por duas personagens da realeza francesa. A figura feminina, que não possui sinais de identificação pessoal, foi interpretada como a da senhora Blanca de Castela, mãe de Luís IX. Sentada no seu trono, vestida com o manto real e adornada com véu branco, dirige-se ao jovem monarca em atitude activa de falar. O rei escuta respeitosamente, enquanto segura entre os seus dedos uma medalha de ouro que traz pendurada ao peito. As atitudes adoptadas por ambas as personagens sugerem a ideia de que a rainha está a realizar a formalidade de dedicar a Bíblia, já terminada, ao jovem rei. Se isto for assim, foi ela quem patrocinou a obra e arcou com os custos da sua confecção. O seu filho, como beneficiário, recebe-a.

A parte de baixo está reservada para os que são realmente inferiores. A posição de subordinação destas duas personagens é evidente, porque as suas representações, mais pequenas, ocupam um plano inferior, o que significa que enquanto a responsabilidade na obra desempenham uma função subalterna. Aparece, em primeiro lugar, um clérigo sentado no seu escano que se dirige ao copista, dando-lhe ordens e controlando o seu trabalho. O referido clérigo está vestido com um aparato religioso. Devemos, portanto, descartar desde o princípio a intervenção de uma personagem investida com a dignidade episcopal, como em algumas ocasiões foi sugerido.

A figura desta personagem indica um clérigo pertencente a uma ordem religiosa, porém deliberadamente não está individualizada. A explicação desta ambiguidade deve ser procurada, em minha opinião, no facto de que aqueles que intervieram dirigindo os copistas, pertencem a mais que uma ordem religiosa. Se for adoptada esta interpretação da iluminura final, a questão da autoria da Bíblia fica resolvida ao menos parcialmente. A grande página iluminada sugere que às quatro personagens que nela aparecem corresponde conjuntamente a autoria e a cada um deles uma parte proporcional em aspectos concretos. Trata-se de uma autoria partilhada.

Corresponde à rainha a iniciativa do projecto, o patronato, o financiamento e o direito de distribuir as directrizes fundamentais, aquelas que atenderá a obra. De algum modo exerce também uma forma de autoria o rei a quem se destina a Bíblia. É ele o beneficiário da mesma. O livro foi feito a pensar nele, na sua educação cristã e no seu proveito político enquanto rei.

Entra na categoria de autor religioso que executa as ordens recebidas, as aplica e as dirige aos artesãos do livro. Já dissemos que se trata da probabilidade de um colectivo de religiosos, talvez composto em boa parte por membros das ordens mendicantes, dominicanos e franciscanos. A eles correspondeu o esboço geral da obra com as suas características peculiares, de acordo com as ordens recebidas.

O copista que figura na iluminura final é também a representação de um colectivo de artesãos das artes do livro que nele tomaram parte activa. Basta um olhar atento em qualquer dos tomos da Bíblia para se convencer da multidão de mãos que intervieram nas tarefas da cópia. Também são mais de um os iluminadores que intervieram na decoração. A eles corresponde principalmente a criação de uma obra de beleza inigualável, que mereceu a admiração e o apreço dos reis mais cultos do seu tempo.

Ramón Gonzálvez Ruiz
Cónego Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Catedral Primada de Toledo


EDIÇÃO «QUASE-ORIGINAL»

Esta edição «quase-original» da Bíblia de São Luís, há tanto tempo esperada, constitui um documento de altíssimo valor histórico e artístico. Ao dispô-la ao serviço do público, o editor M. Moleiro presta um inestimável serviço, tanto aos que se dedicam a investigação em matérias de arte e história, quanto as pessoas, cada vez mais numerosas, que sabem apreciar as belezas de uma obra de arte que está no topo da arte bibliográfica universal. A Bíblia de São Luís, monumento único da arte livresca, constitui uma mina inesgotável para o historiador e uma fonte de gozo para os sentidos.

livro de estudo

Bíblia de São Luís Santa Igreja Catedral Primada, Toledo, The Morgan Library & Museum, New York

I: Texts
Volume I contains the transcription of the Latin text and its translation into Spanish
 
II: Commentary volume.
Coordinator: Ramón Gonzálvez

Contents:

From the editor to the reader

Prolegomenon
Ramón Gonzálvez (Toledo Cathedral)

The Bible of Saint Louis in the chapels royal of France and Castile
Francisco J. Hernández (Carleton University, Ontario)

The Bible of Saint Louis in the Testament of Alfonso X The Wise of Castile (1284)
Manuel González (Seville University)

The Bible of Saint Louis of Toledo Cathedral
Ramón Gonzálvez

The Bible of Saint Louis as a Bible Moralisée
John Lowden (Courtauld Institute of Art, London)

Codicological study of the Bible of Saint Louis
Ramón Gonzálvez

The texts of the Bible of Saint Louis
Klaus Reinhardt (Trier University)

The artists of the Bible of Saint Louis
John Lowden

The New Testament (except the Revelation) in the Bible of Saint Louis
François Boespflug (Marc Bloch University, Strasbourg)
Yolanta Zaluska (Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS, Paris)

The Bible of Saint Louis and the stained-glass windows in the Sainte-Chapelle, Paris
Yves Christe (Geneva University)

ISBN: 978-84-88526-91-5

Iluminuras

Características

Data: 1226-1234
Tamanho: 422 x 300 mm
3 volumes, 1.230 páginas
4.887 cenas historiadas iluminadas da Bíblia
Estojo em pele
Volume de estudo a cores: Vol. I (511 pp.) por Ramón Gonzálvez (Toledo Cathedral), Fr. Miguel C. Vivancos, (O.S.B.) y Jean-Pierre Aniel (Manuscripts department (CRME), BnF); Vol. II (496 pp.) por Ramón (Toledo Cathedral), Francisco J. Hernández (Carleton University, Ontario), Manuel González (Seville University), John Lowden (Courtauld Institute of Art, London), Klaus Reinhardt (Trier University), François Boespflug (Marc Bloch University, Strasbourg), Yolanta Zaluska (Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS, Paris) e Yves Christe (Geneva University)
«Primeira edição, única e irrepetível, limitada a 987 exemplares, numerados e autenticados com um certificado notarial»
ISBN: 978-84-88526-59-5

Avaliações

“Oui, la phrase de Calouste Gulbenkian placée en exergue de votre lettre, correspond parfaitement au résultat de votre travail: ce n’est pas un livre de premier ordre mais bien un « Chef-d’œuvre ». Soyez- en remerciée.”

Michel R. – France

“The St. Louis Bible arrived in good order. I am absolutely in awe at it. It is so beautiful and so meaningful for this Cathedral. I thank you again for your kind consideration.”

Rev. Crosby K. – United States

“Concernant la Bible de Saint Louis, je me suis passionné pour cet ouvrage dès que je l’ai découvert sur votre site. Les enluminures que vous réalisez, sont d’une qualité telle que le Moyen Âge pourrait vous envier! C’est avec une vive émotion que je contemple cette œuvre et la découvre tous les jours un peu plus. La grandeur de votre réalisation est de l’ordre de l’Art. Merci de me permettre au XXIè siècle de pouvoir vivre un peu d’un autre temps tout en m’enrichissant de sa beauté.”

Philippe M. – France

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